segunda-feira, 7 de abril de 2025
Mesmo com economia da cidade em ascensão nos anos 40 e apoios garantidos, difícil seria concluir a obra e colocar hospital para funcionar
Segundo a Ata da Assembleia Geral para a fundação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Garça, no dia 12 de fevereiro de 1950, às 14h30, no Auditório da Rádio Clube de Garça (extinta Rádio Centro-Oeste), então localizada à Rua Heitor Penteado, piso superior, onde hoje, em 2025, econtra-se no térreo a loja Cirandinha Calçados, diversos representantes da sociedade/comunidade garcense se reuniram com o objetivo de estudar, discutir e deliberar sobre a fundação. Nesta terça-feira, 12 de fevereiro de 2025, o Hospital São Lucas completa 75 anos (Rua Dr Orlando Tiago dos Santos, 70, Vila Williams).
Foi convidado para constituir a Mesa o reverendo – padre Antonio Magliano, então vigário da Paróquia; também Horácio de Carvalho Júnior, juiz de Direito da Comarca; Dr. Nadei Gonçalves, delegado de Polícia e para secretariar, o advogado Jathir Mahfud e Roque da Silva Ferreira.
Dr. Horácio expôs os motivos da assembleia e consultados os presentes, foi declarada a fundação da Santa Casa de Garça, considerando fundados os que estavam presentes.
Em seguida, os estatutos, cujos textos foram elaborados e apresentados pelo padre Antonio Magliano e Dr. Augusto Alvim da Silva. Várias pessoas foram ouvidas expondo seus pontos de vista a respeito, sendo afinal aprovada a proposta apresentada pelo Dr. Antonio Gomes de Matos para a constituição de uma comissão destinada a examinar o projeto de estatutos e dar parecer sobre este dentro do prazo de 72 horas, submetendo-o, então, à aprovação de uma nova Assembleia Geral.
Foi opinado pela assembleia a indicação de Mesa no sentido de serem nomeados para constituírem essa comissão: Dr. Delfim Augusto de Faria, Américo de Oliveira, Dr. João Batista Folini, Sebastião Pimentre, Dr. Augusto Alvim da Silva e o padre Antonio Magliano, sendo convocada nova assembleia para o dia 16 de fevereiro, às 20 horas, no mesmo local.
O juiz Nimaes Barros pediu e foi apoiado pela assembleia a inserção de um voto de louvor à Mesa pela forma que dirigiu os trabalhos, ao Dr. Augusto Alvim da Silva e ao padre Antonio Magliano pela elaboração do projeto de estatutos e lançamento da ideia da fundação.
Agradecendo mais uma vez às pessoas que compareceram, o padre Antonio Magliano, depois de tecer oportunas considerações em torno do fato, pediu também que se fizesse constar na Ata um agradecimento e os elogios de Assembleia à direção da Sociedade Rádio Clube de Garça pela cessão do seu Auditório.
Lida a Ata, foi notificada a parte que se refere à nomeação de comissão para estudar os estatutos, com a exclusão do nome do Dr. Augusto Alvim da Silva, incluído por equívoco, declarando-se que são fundadores da Santa Casa de Garça, as pessoas cujas assinaturas figuram na primeira folha do primeiro livro.
Estando todos de acordo, foi encerrada a assembleia, assinando a Ata as pessoas que se encontravam no recinto, como fundadores da Santa Casa. A Ata foi elaborada por Roque da Silva Ferreira, servindo, então, de secretário.
A DATA – Neste terça-feira, dia 12 de fevereiro, completa 75 anos da fundação do Hospital São Lucas, mas o prédio pronto só foi entregue em 1962. Tratava-se de uma obra que foi fruto de uma ideia quase utópica, mesmo numa época em que a economia local estava em franca ascensão devida à pujança do mercado agrícola cafeeiro, característica histórica que colocava Garça naqueles e nos próximos anos, na opinião popular, como a Capital Mundial do Café graças à grande produção nas fazendas que ficavam dentro de seus limites.
O franco apoio por parte dos agropecuaristas, do comércio da cidade e mesmo da população foi decisivo para que o majestoso prédio pudesse ser levantado e concluído. A partir da ideia e iniciativa de Monsenhor Antonio Magliano, quem se movimentou e despendeu o maior tempo e até recursos pessoais nessa empreitada foi João Manzano. Este, mobilizou pessoas e segmentos e, assim, mesmo com muitas dificuldades, conquistou a realização e conclusão de um sonho que tinha um único objetivo – o de ser mais um braço amigo à saúde dos menos favorecidos.
É preciso destacar a atitude benemerente de Jennings Kendrick Williams (o mesmo que empresta seu nome ao Lago Artificial – J.K.Williams e Vila Willams), que cedeu 16 mil metros quadrados de terreno com localização privilegiada, para que a construção do novo hospital pudesse ocorrer. Nem toda a área foi ocupada.
TEREZINHA MANZANO – TESTEMUNHA DE UMA GRANDE OBRA – UM SONHO QUASE IMPOSSÍVEL - De próprio punho e lançando mão de suas memórias, quem apoiava esta narrativa histórica da Santa Casa de Garça era Terezinha Manzano, falecida, uma das filhas de João Manzano, que gentilmente repassou seus escritos para que assim, pudesse ficar consignado seu relato tão oportuno.
“Nossa história”, por Terezinha Manzano: Ao final da década de 1940, já existia em Garça o Hospital Samaritano, uma instituição espírita. Atendia muito bem, mas a cidade estava crescendo e a população aumentando. Era necessário pensar em construir alo maior que atendesse às necessidades de todos os moradores do município, principalmente os mais carentes.
Uma Santa Casa de Misericórdia foi idealizada pelo Monsenhor Antonio Magliano, que já havia conseguido muitas outras coisas em Garça, e, reunindo-se com algumas pessoas da comunidade, foi aprovada a ideia da construção.
Mas, como sempre, não é fácil encontrar voluntários que se disponham a enfrentar gratuitamente uma empreitada dessas.
O padre Antonio Magliano, então, convidou o senhor Joao Manzano para juntos, iniciarem a Santa Casa de Misericórdia de Garça, uma Instituição Benemérita Católica, e ele aceitou.
Foi eleita uma diretoria para assessorar os trabalhos a serem realizados, mas sempre nesses empreendimentos, a responsabilidade maior é do presidente.
O trabalho foi árduo, começando todo da estaca zero.
Primeiro foi a procura do terreno, que felizmente o professor Jenning Kendrick Williams colaborou generosamente, doando 6.000 metros quadrados.
Depois, saíram com um “Livro de Ouro” para conseguir donativos. Várias pessoas contribuíram. Não é prudente citar nomes, para não ofender alguém que possa ser esquecido, pois os que doaram grandes ou pequenas quantias o fizeram-no de coração.
Assim, foi que no ano de 1950, dá-se início à construção da Santa Casa de Misericórdia de Garça, de acordo com o projeto da Comercial e Construtora Ferraz S/A, de Bauru, tendo como engenheiro responsável, o dr. Guilherme Ferraz.
Poucos anos depois, a obra já adiantada, o Monsenhor Antonio Magliano transferiu-se para o Rio de Janeiro, tendo ficado tudo sob à responsabilidade de João Manzano.
Naquela época até a compra dos materiais de construção era geralmente feita em São Paulo. Na região ainda não havia lojas especializadas para grandes quantidades. A ferragem, por exemplo, caixilhos, janelas, portas, foi tudo confeccionado em uma serralheria em São Paulo, de propriedade do senhor Amadeu Salatini.
O senhor João Manzano, enfrentando todas as dificuldades, tendo deixado de lado seus negócios e interesses particulares, venceu todos os obstáculos até entregar o prédio pronto.
Como homenagem e reconhecimento, a nova diretoria eleita, em singela cerimônia, colocou seu retrato na portaria do hospital, concedendo-lhe ao mesmo tempo, o título de “Irmão Benemérito da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Garça.
Hospital São Lucas – ele recebeu este nome pela segunda diretoria, a mesma que tomou posse quando o senhor João Manzano entregou o prédio pronto da Santa Casa de Misericórdia de Garça”.
IRMÃS FRANCISCANAS – “ELAS TAMBÉM FAZEM PARTE DA NOSSA HISTÓRIA” - “Elas também fazem parte da História da Santa Casa de Misericórdia de Garça.
O sr. João Manzano sempre pensou em entregar o prédio pronto para ser dirigido por uma Congregação de Freiras, pois conhecia sua capacidade de organização.
A procura foi incessante por parte dele e de suas filhas.
Um dia, Frei Aurélio Di Falco e João Manzano, conversando com a Superiora do Brasil dessa congregação italiana que já possuía irmãs trabalhando no Patronato Juvenil Garcense, conseguiram que também assumissem o trabalho da Santa Casa.
Foi adaptada a clausura, onde depois funcionou a Pediatria, para a residência das irmãs. Lá permaneceram por vários anos.
Chegaram as primeiras em 1968, vindas da Itália e pouco tempo depois outras, quase todas enfermeiras-padrão, que logo demonstraram sua capacidade, dedicação e competência.
Apenas alguns nomes: Irmã Valentina, a primeira que chegou e por muitos anos dirigiu a Pediatria; Serafina; Liliana; Daniela, excelente cozinheira. Orientou muito bem a Cozinha do hospital; Chiara, Renata, Rosa, Maria Ermínia – aquela que todas chamavam, de “Madre”. Esta, toda manhã, antes de sair para a missa das 6h30, dava uma passada nos quartos e enfermarias para ver os doentes. Todas muito queridas pelo povo e, elas também, gostavam muito de Garça.
Depois foram chegando as brasileiras, como Irmã Vera Lúcia Valsechi, vocação garcense e muitas outras, mas todas desempenhando seu ministério com muito amor e carinho para com os doentes e seus familiares.
No ano de 2013 completaram 45 anos de trabalho, amor e dedicação aos doentes que neste hospital passaram, desta Congregação de Irmãs Franciscanas de Cristo Rei. Da Itália para o Brasil”.
JOÃO MANZANO: QUEM FOI O HOMEM POR DETRÁS DO SONHO - João Manzano nasceu no dia 13 de maio de 1889, na Espanha. Filho de Asquelino Manzano e Justa de San José, veio com eles para o Brasil com apenas 9 anos incompletos, tendo chegado no Porto de Santos no dia 25 e março de 1889.
Vieram como imigrantes, por isso no “Memorial da Imigração”, em São Paulo, há o Atestado que certifica a chegada da família junto com centenas de espanhóis.
Seguiram de trem para Jaboticabal, depois de carroça, transporte da época, para Bebedouro onde trabalhariam como colonos em fazenda de café.
Alguns anos depois, seu pai conseguiu comprar um sítio em Monte Azul e mudou-se para lá.
Em Monte Azul, já com 23 anos, casou-se no dia 4 de outubro de 1913 com Antonia Sanches, também espanhola, filha de Santos Sanches e Izabel Garcia, tendo chegado no Brasil mais ou menos no mesmo ano. Ela, com 4 anos, também seguiu com sua família para Jaboticabal e de lá Taiuva, onde iriam trabalhar em lavoura e café por 10 anos. Depois, seus pais também compraram uma fazenda em Monte Azul, que era o “reduto dos espanhóis”.
Antonia foi sua grande companheira nas horas de lutas, trabalho, alegrias e tristezas durante 61 anos.
O casal teve os filhos Anita, Evaristo, Luiz, que morreram em tenra idade, e, Carmen, Vicente, Sebastião, Amélia e Therezinha, que acompanharam bem o trabalho de seu pai na Santa Casa de Garça.
Depois de morar em Monte Azul, mudaram-se para Catiguá, Catanduva, depois por 10 anos na Fazenda Jaú ao lado de Vila Couto, pertencente ao Município de Garça, que hoje é o Município de Alvinlândia, do qual foram fundadores e grandes benfeitores. Finalmente, em 1947, transferiram-se de forma definitiva para Garça.
João Manzano faleceu no dia 26 de abril de 1974 neste hospital (Hospital São Lucas). (Espero ter contribuído um pouco para que a História de nossa Santa Casa seja mais conhecida: Ass. Terezinha Manzano). – (Textos adaptados por Paulo Francisco Scutari – Jornalista – MTE 58581/SP, ex-assessor de Comunicação da Santa Casa de Garça - Hospital São Lucas)